30.12.08

Missiva


Uma carta, como antigamente se mandava, caligrafia denunciando o estado d'alma.

Uma carta relatando o que ocorreu desde que, desde semana passada, século, milênio passados, desde quando, quando nada mais chegou.

Bilhete, até, poderia, dizendo, aonde foi, se comeu, quanto dormiu, quantas horas insones. Daquela dor, se passou; das crianças, se cresceram; do peito, se ainda aperta; dos duzentos exercícios diferentes, tempo, tempo pra eles, tem?

Telegrama, talvez, contando breve: do coração - entorpeceu-se, bate, parou?

Onde pousa, onde, a casa, que planeta, esquina, rua?

Que oceano lhe alcança, quantas ondas fustigando corpo, apagando marcas, pegadas, passos; qual cor, a areia; quantos raios diários castigando pele, dourando ombros, curtindo couro?

Quem lhe ama, hoje? Quem agora ama? Quantas, quais, as paixões da hora?
Quais, os sonhos? Que canções ouve? Que palavras novas aprendeu? Que caminho, rota, destino, para o ano?

Só para dizer.
Por acalmar, repartir, compartilhar, dividir, somar, confortar, arrematar com linha de seda.

Só para não se perder. De vista. De vez.

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