6.7.09

Pesadelo

Era um alarido infeliz, uma zoada tão cachorra da moléstia, mais parecendo todos os diabos do mundo reunidos pra acordar pedra e madeira. Todos juntos numa caixa, troando.

Insistiu até conseguir, dormir, e sonhou. Sonhou nas profundas, em visita, na entrada do portão, tête-à-tête com Cérbero que lhe deu passagem sem rosnar ou ranger de dentes.

Não sabe quanto tempo vagou por lá, meio aos uivos e gemidos, entre os galhos retorcidos, no frio, na escuridão.
Não sabe quantas almas viu, quantos conhecidos, amigos, inimigos, colegas, parceiros.
Não sabe se teve medo ou solidão.
Então pensou nele, tão alto, tão alto, chamado, pedido, apelo.
Então pronunciou seu nome. Três vezes. Meio às sombras.
Então esperou.
E esperou.
E esperou.
E esperou a vida inteira, desde sempre, até o fim de sua longa noite.
Até a luz da manhã ferir-lhe os olhos.
Até se instalar o nunca mais.


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