19.1.09

A fonte, o astro, quem importa



Entrei na fonte areada com sabão e enxugada com roupão como na dança de roda. Mergulhei, banhei-me, submergi, emergi, liquefiz-me. Joguei-me nela que não era de ouro, mas de álcool: borbulhante, fermentada, amarela. De alma encharcada, saí, passos incertos, saracoteando, reconhecendo terreno, primeira timidez já meio de banda, povo passando junto, carimbado, menos Mando e Lela e Fabi, prazer em vê-los, caras boas, de tempo bom para trás, de tempo bom pra frente.
Já bem liquefeita, trafegando, desviando d’uns e d'outros aqui ali e acolá, acolá ali e aqui, circulando risos e ois, eis que entra em cena o astro da noite, beca d’oiro, bouquet de lírios na mão, óculos ray-ban na cabeça, colarzão de medalhão, suspiros apaixonados das fãs às promessas cantadas: “eu vou tirar você desse lugar/eu vou levar você pra ficar comigo”.
Ao pé do palco não a vi surgindo entre a platéia, cara de camundongo, em trejeitos e trejeitos e bocas e caras, periguete, vagaba, loira oxigenada.
Olhou demorado, chispas nos olhos, fuzilando, seioláporquê, que talvez devesse ser o contrário o esperado. Ou nem.
Liquefeita que estava, já disse, nem rangi os dentes, nem rosnei, nem grunhi, nem olhei, nem fuzilei, nem retribuí.
Voltei à fonte, goles, banhos, e a noite promete e o som não pára e há a dança e o riso e o povo e o astro, apontando-me, derretendo-se: “você é a ciganinha dona do meu coração"...
Guardei dele, um lírio.
Da noite, o riso. A fonte. A importância de uns. A desimportância de outros.

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