25.1.09

Coisas do verão



Era talvez o momento errado. Já havia escolhido o bloco, do eu sozinho. Houvera a reconciliação consigo e com a casa e com a cama e com a noite, a madrugada, a solidão. E aconteceu de ser lua cheia e de ser madrugada e duns frêmitos e dumas idéias e dumas vontades e dumas conjunções astrais e de uma desesperança e da instalação da desilusão, da desistência, e do por que não, que não estou fazendo nada e nem você também? E assim foi, uns meses, um calor, um aconchego, uma companhia. Mas, onde, a falta de chão sob os pés? Onde, as estrelas e o céu e a nova estação?
Pondo na balança e na peneira, tinha que dar a decisão. Não por nada, que não faltavam a diversão e o riso e a alegria e mais. Antes por uns detalhes bobos, tão bobos, tão detalhes, por que tanto pesavam? Uma preocupação maior que o devido com o próprio umbigo, uma falta de modos à mesa, uma falta de cuidados, uma insônia intermediária arrastando junto os arredores, uma falta de silêncio, um olhar de esguelha, uns telefonemas misteriosos de madrugada, um excesso de complicações, do nada, açúcar, fumaça, um isso, um aquilo. Uns senões.
Bastantes para a volta ao bloco, que não queria botar na rua, da queda do galho, sem saída e nem ginga pra dar e vender, ouvindo Sampaio, até o ouvido apitar.

Vícios, cada um com o seu: “à chacun, sa merde”, diz o ditado. Além de beber e fumar, a adrenalina – olha só! – engrossava o caldo. Vício em paixão, tem quem diga? Daí não poder conviver bem com a calma, a quietude, o igual-à-maioria-das-gentes-que-conhecia. Daí não querer viver sem paixão. Daí não querer só o possível.
- Então, infeliz, vais morrer sofrendo, em vigorando a tese daquele teu amigo que afirma só ser paixão quando não é correspondida.

Entristeceu-se com o tiro. Lembrou-se do que poderia ter sido e não foi. Pensou no que foi sem ter sido. E a título de consolação me confessou, amigas que somos: - entendo tudo isso, sim, de antes, de agora, que não suportaria mesmo ninguém como eu apaixonada por mim.

Só me restou achar graça. Coisas do verão.

4 comentários:

sandrofortunato disse...

Deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá... Esse vício é pior que coca. Cola! Agora desgrude e vá pra lá, o que é que tem... ;)

MgP disse...

Vade retro!! Desse vício já me curei há tempos. Agora faço aconselhamento sobre. ;)

Mme. S. disse...

Belo texto. Um raio-X das nossas (in)competências sentimentais contemporâneas. Mas com o quê de m. Que só m sabe como escrever. Um beijo, S.

MgP disse...

eita, que coisa boa! obrigada.
Pura generosidade de S. :)
beijo, ;)