15.4.09

cama-de-gato, pau-de-sebo




Cama de gato - jogue o jogo desenhando figuras sem prender os dedos. Muda o movimento, muda o desenho. Duas, quatro mãos, um novo desenho.
Cama de gato - trance os fios, dedos ágeis, hábeis, velozes, tecendo a teia onde vão se enredando dúvidas e certezas, luz e trevas.

E quem não quer se enredar faz credo em cruz, esconjura, bate três vezes na madeira (três, Mariahilma contou, ensinou, revelou, é quanto se repete uma coisa pra que vire decreto).

Bate na madeira, pois, de virola, isolante termo-elétrico. E no entanto, condutora de calores e de choques, quando madeira de leito, tábua dos sacrifícios, mesa de banquete.

Na cama, a receita é simples: pra abafar o cheiro forte da virola, três demãos de verniz, uma dose de disposição, um bom motivo. Encobrem, além do móvel, as intenções e o diabo a quatro. As más e as boas e muitas, das de encher toda a extensão do vasto inferno.

Da virola se faz também o pau-de-sebo, um pau escorregador onde em cima tem dinheiro pro primeiro ‘achegador’.
Quem não brincou e não viu, não viveu. Velhos tempos, belos dias. Há, pois, um ‘mói’ de gente que desconhece o suplício do escorregamento do esforço vão da queda da platéia se rindo aplaudindo pedindo bis e só desejando ser feliz.

Se eu fosse criança voltava a brincar com os dedos.
Se eu fosse adulta trabalhava em marcenaria.
Se eu fosse sábia, não brincava de cama de gato, nem de pau de sebo, nem ia querer saber de todas as utilizações da virola, de todos os desenhos dos cordões.
Se.

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mas não me queixo dessa sorte, eu sou um comodista
E ainda me chamam por aí de verdadeiro artista
e a platéia ainda aplaude, ainda pede bis...


(Pois é, seu Zé; Gonzaguinha)

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