25.2.09

Marionetes

Eu sonhei outro mundo, outro lugar.
Não tive medo dos trovões, da água despencando sobre a telha nua, da enchente nos levar. Como lavou,levou, na ribanceira, baratas, ratos, ritos, ritmos, garrafas de vodka, condons, fantasias afogadas.

E tive idéias, abafadas, arrematadas, silenciadas.
E nos vi, pequeninos, miniaturas, pendendo dos cordões, peraltando com nossas tesouras, cortando fios, caindo, correndo, dançando de roda.
Nós, meninos.
Nós, mãos dadas, rolando, cambalhotando na grama esmeralda molecagens, diabruras, traquinagens nossas, reveladas no refletor.
Até não querer mais.

E nos olhamos, sorrimos, calamos. Como se de repente, surpreendidos em falta. Como se de repente, despertos. Adultos. Cônscios. Da nudez. Do desejo. Do perigo.
E nos vi, perdidos, confusos, esquivos, no paraíso devassado.
E nos vi, fugindo, partindo, sumindo.
E nos vi, presos novamente aos fios, pés tocando o solo sem firmeza, balançando o corpo.
Assim nos vi: apenas, mais uma vez, marionetes pendendo dos cordões do céu.
Assim, engrossei a chuva.

Lá fora ainda trovejava.

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