9.2.09

Boitatá

Acordei com o tchic-tchoc de passos no cascalho. Pela janela, nem sombra. Nadinha, só o som, renitente: tchic-tchoc. De pé num salto, agora te pego, flagro, vais ver só! (seria um rato, gato, gatuno, malassombro, passado, chafurdando o jardim?)
Ninguém à vista, afora a lua, cheia, nua, indecente, sem véus ou vergonha, duas da manhã, nem sexta era, nem 13 ainda.

Agora sim, ventando na rua, sumindo na esquina, desabalado, o boitatá. Rastro de fogo no chão, cheiro de chifre queimado no ar, clarão, depois um xiiiii, quando caiu no mar.

Ouvi dizer, virou tritão, deu no jornal, depois, também.

Naquela noite, perna bamba, susto e surpresa, entrei em casa, tirei os brincos. Era deles, balançando, o tchic-tchoc que pensei do cascalho pisado.

Às vezes se endoidece à toa. De só. No fundo, no fundo, ninguém quer mesmo ser só. Nem sereia. Nem tritão. Nem boitatá.

Nenhum comentário: