1.9.09
Cafard
Há insetos mortos no chão. Nem ouso dizer quais. A mim repugna pensar no nome. Nome que é também tristeza.
Invadem os sonhos e espalham o terror. Está assim a casa, preciso dizer. Baratas – já disse. Tristeza.
Se pudesse, bania ambas. Do mundo, dos dicionários, das pessoas.
O veneno nunca foi suficiente, e elas voltam.
No silêncio. No escuro. No banheiro. No ruído da noite. Na calada da madrugada.
Limpo tudo, tudo, com minúcia, detergente, bactericida, desinfetante. Nada.
Foi-se um mês. Veio outro. Foi-se um amor. Veio outro.
Os meses sempre vão. O amor sempre volta. Diferente. Igual.
Quando passa, chega o cafard.
Avoir le cafard – expressão apropriada. Literalmente, ter barata. Masculino, singular: barato.
Ter barata. Ter tristeza. Ter insetos.
Em casa. Nos sonhos. Literalmente. Simbolicamente.
Historietas baratas, apenas. Dramalhões vendidos a R$ 2,50 no paralelo. Na porta do banco.
Caro é o veneno. E pouco. Como sempre, insuficiente.
Quando entrar setembro é somente uma canção. Mas entrou setembro. E em setembro vai ter sol. Gatos caçadores de insetos. Flores. Alegria. Primavera. E – almejo - bastante inseticida.
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6 comentários:
pode ter certeza que o texto já é um excelente repelente. E que venha setembro e os gatos! (tenho ojeriza de baratas. bingo! mais uma coisa em comum! e vou até linkar vc num pequeno texto no qual farei tratativas vãs sobre o mesmo tema). bj!
Lembrando que uma barata inspirou uma das maiores obras da literatura, "A metamorfose", de Kafka. Abraço.
Sheyla, a do Bicho esquisito, me fez vir até aqui. E ela tem razão: o seu texto é muito bom. Vou ler outros, com calma. Pra que pressa, não é? Aliás, já estive aqui antes. Mas com um olhar meio enviezado, confesso. Agora, não; estarei mais atento.
Um abraço.
Oi,
tomei a liberdade de divulgar um texto seu no Balaio.
Um abraço.
Trés belle!
E avoir cafard? aqui ficamos grilados, cheio de grilos, se bem que o som dos grilos seja bonito.
E setembro? bom ouvir:VA - September Songs - The Music of Kurt Weill (1997)
Esse é um timaço!!!
Sheylinha, Moacy, Cefas e meu querido Oswaldo.
Pena que passei um dia off e só agora recebo esse presente que é vê-los aqui.
Assim não se pode ter cafard, meu caro Orf: deprimir nem entristecer.
Obrigada, queridos, obrigada, Sheylinha, pelo espaço no BichoEsquisito, obrigada Moacy, pela acolhida no balaio.
muitos beijos,
m.
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