Hoje eu queria mandar você ir pro inferno. Sem passaporte. Sem salva-vidas. Sem remo. Sem uma pataca.
Você ficaria na porta, olhando o fogo depois do rio, sem poder entrar. Sem como pagar a travessia, o barqueiro tosco, sem poder voltar.
Eu queria mesmo estar na terra, acima do inferno, pisando o chão sobre sua cabeça. Recalcando sua inércia.
Hoje eu queria varrer o seu quarto e arrastar seus documentos junto com a poeira até o lixão. Seu registro geral sumindo, sua foto de pessoa física se derretendo no lodaçal.
Hoje eu queria mesmo era você encerrado eternamente no Hades. Você, que tem medo dos seus irmãos. Você que ladra e não morde. Você, que o que diz não se escreve.
Eu queria.
Hoje eu queria não ter memória.
Eu queria viver em outro planeta.
Eu queria ser outra pessoa.
Hoje eu queria, por um momento,
que o inferno não fosse aqui.
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E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
espera, me espera, eu vou voltar
(Palavra de Mulher, Chico Buarque)
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2 comentários:
Márcia,
imprecação de mulher faz até o Hades tremer... E Caronte se assustar, e fugir.
Beijos,
Marcelo.
E no fundo, no fundo, é tudo da boca pra fora... hehe.
beijos, Marcelo.
Obrigada.
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