12.3.09

Quem não sabe assoviar

Eu vou fazer uma canção de escárnio e maldizer, uma canção de mal-casada, uma canção bordada com fios de urtiga. E jogar na rede de intrigas.

Eu vou fazer uma canção medieval, um canto gregoriano, compor um jogral. E recitar na farra do Juízo Final.

Eu vou fazer um canto de trabalho, uma canção fabril. Com dois metros de seda javanesa, azul e encarnada, empurrar Diana de cima do muro pra brincar o Pastoril.

Eu vou fazer uma marselhesa brasileira, marcha-rancho libertária, um hino nacional. E entoar no próximo carnaval.

Eu vou fazer um canto de sereia, canto minimalista conjurando águas, sonoro haikai. E lançar sobre o fogo do Monte Sinai.

Mais poderia dizer. E não digo.

Se nem mesmo sei assoviar cantigas de amigo.


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Ouvir rock, ver a chuva, beijar uns lábios, deitar com uma ou outra carne na cama e sentir o sexo. [...] Será que o rock, a chuva e o sexo não passam de infância e que só a infância presente existia? Só a infância presente existe! Lembre-se disto: só a infância presente existe!

(Jorge Mautner, Deus da Chuva e da Morte)

Minha canção há de brilhar na noite, no céu de uma cidade do interior.

(Objeto não identificado, Caetano Veloso)

5 comentários:

Eliade Pimentel disse...

Oi, minha querida! Obrigada pela gentileza... vc é um amor. Beijos. Hoje eu te linko bicha e vou acompanhá-la...

MgP disse...

Linke com jeitinho, pra não doer ;)
Beijo, Eli. Obrigada a você.

Moacy Cirne disse...

"Uma canção bordada com fios de urtiga": imagem forte, dilacerante. Qual o seu norte? Vou espiar as outras postagens de seu blogue...

Um abraço.

MgP disse...

Há uma história infantil, Moacy, de rapazes encantados em cisnes. A irmã deles precisa bordar túnicas com fios de urtigas. Só jogando as túnicas sobre os cisnes quebrará o feitiço. E ela sofre, mas tece. E joga. E quebra. E são felizes, então.

Obrigada pela visita. É sempre um prazer "vê-lo" aqui.

Um grande abraço.

MgP disse...

Em tempo: o conto é de Andersen.