16.10.09

noturno




Pelo ar, sobrevoa a cidade. Noturno. Veloz. Cruzando, roçando, ao passar, lobos, vampiros, morcegos, criaturas da escuridão, habitantes do seu pavor.
Um tocou seu braço. Uma bebeu seus olhos.
À frente, no teto do mais alto edifício, repousa em espera, anjo maldito, banido de céu e terra.
Encerrado no cofre o revólver, balas de prata. E onde o segredo em papel amarelo?
Segredo. Existência inteira em segredos. Inconfessáveis. Dupla vida, tripla, quádrupla. Quantas vidas? Quantos seres em um?
Manhãs adormecidas anos a fio, dias sem sol. E o brilho na noite. E o poder. E o entorpecimento.

Uma mulher solar. Uma mulher abissal. Uma mulher visceral.
Uma mulher e sua sede infinita. De devassar. Revirar. Remexer. Revolver. Penetrar.

E o interdito.
As páginas trancafiadas, os códigos sem honra, segredos a sete chaves. Sem partilha. Seu prazer. Seu poder. Sua solidão. De mais ninguém.

Um rio transbordando - fobia de águas profundas. Os arrecifes. O vôo.
A entrada, proibida.
As portas cerradas.
Ocultos a alma o prazer o remorso a culpa a raiva a dor. E o brilho.
Noturno.
Desvarios o assaltam no vôo. Na travessia do túnel. Na cidade.
Na noite.
Na noite em que assiste inebriado o desfile das fêmeas no cio.
Sem ver, na outra direção, uma mulher partir.

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