6.10.09
Contrição
Havia um cão rosnando, um cão amarelo, feroz, acorrentado. Havia um homem falando ao telefone, nariz aquilino, olhos profundos. Havia o medo do cão, o medo do homem, embora a voz, que acalmava, nem dois pra lá nem pra cá. Silêncios intercalando revelações, um homem de além-mar, roupa branca, fala estrangeira.
Quis ir consigo, e o portão fechado. Quis ir consigo e o cão se soltou. Quis ir consigo e esqueceu. Ficou na costa, entoando cantos de trabalho. Não se despediram. Desapareceu.
Havia outro cão, uma cadela, que não era feroz.
E um longo corredor.
E a campainha tocando, interrompendo sono e sonho.
Mais um dia, e acordei cansada. Mais um dia, e tanto a fazer.
Então vim aqui, que vi aberta a porta da Igreja, e subi os batentes, e entrei, reverente, e pensei que, Senhor, aqui venho, que não sou digna que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salva (Mt.8,5-11). Então pedi proteção. Sabedoria. Clareza. Discernimento. Então agradeci.
Preparo a viagem, as malas, estudo o mapa de navegação. Falta pouco tempo para lançar o barco ao mar. Para encontrar as perguntas, que respostas não há.
Falta pouco tempo para chegar à ilha, onde estão os coqueiros, onde está o baú, onde estão os tesouros, onde está a menina adormecida que um dia fui.
Falta pouco tempo para chegar à ilha, onde inteira estarei até poder regressar.
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"Pra que sofrer com despedida,
se quem parte não leva
nem o sol, nem as trevas
E quem fica não se esquece
tudo o que sonhou?"
(Rita Lee-Paulo Coelho; Cartão Postal)
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