20.11.08

A coragem é translúcida


Salva-vidas ambíguo, impele ao despenhadeiro, instiga ao mergulho, amortiza a queda - a coragem.
Coragem para a partida. Para o retorno. Para a fuga mesma, mesma fuga. Para a troca de dores. Sabendo-o. Querendo-as.
Para a nudez. A queima das máscaras. A revelação. Do belo, feio, sagrado, profano, humano, divino. Do inteiro: deleite e pavor.
Coragem.
Na voz entre silêncios. No sangue das feridas revolvidas. Na recusa ao tédio e à morte e à covardia. No amar.
Coragem. No sofrer. E amar de novo. E mais.
Coragem para retirar-se. Recolher-se. Repartir-se. Refazer-se.
Para atravessar o deserto. A floresta. A noite. O dia que vem.
Para andar com o medo, sem vencido ou vencedor.
Para andar, enfim.
Pelo único caminho possível.
Até o fim do pântano, do lodo, das reticências...
Que - água pura - a coragem é translúcida.

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