23.2.11

busca e apreensão



Ontem foi dia de romaria. Pela cidade, procurando bandeiras. Banderas. Fui ao italiano, ao português, ao recifense. Restaurante, botequim, chopperia. Não nessa ordem. Não nessa cronologia. Fui aos possíveis lugares onde não foi possível encontrá-lo.

Ontem ele não quis tomar vinho em companhia da moça que poderia ser sua filha - mas não era. Nem cerveja sozinho. Nem chopp com amigos. Onde fincou sua flâmula? - me perguntava. Em resposta, as buzinas do engarrafamento na avenida transversa travestida de Champs-Élysées nordestina.

Ontem eu não quis ou não consegui trabalhar, estonteada com as coisas que não davam certo ligeiro, que paciência está em falta e sem previsão de remessa.

Meu coração claudicante esboçou alguns passos em direção ao astro - vagabundo, luminoso -, tropeçou e caiu, mas amparei-o, estreitei-o no peito, comprimi-o, anestesiei-o.

Sem forças para andar até o rio, deitei e li histórias de detetives. Memorizei suas técnicas. Dei tratos à bola. Perdi o sono e o encontrei de novo, na madrugada. Não consegui descobrir as pistas do desaparecido.

Pensei em fazer como a moça que só perguntava, repetidamente: onde andas? onde andas, menino?

A bem das línguas, preferi perguntar mentalmente: aonde vais? quo vadis?

Ontem decidi continuar a peregrinação e não sossegar até encontrá-lo. Apenas para saber se seu olhar ainda é o mesmo. Se cortou os cabelos compridos, os cachinhos caídos no chão.

Então acordei.

Já tarde da manhã enfrento as ruas. Pisaré las calles nuevamente. Nem é carnaval mas não demora. Estará pelas vitrines, estará no alfaiate, na costureira, tirando as medidas para suas vestes de Arlequim.

E o tempo de palhaço já passou.


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