5.11.10

Arcano XVIII




As ruas da cidade estando perigosas à noite, fechou janelas e portas - trancas, travas, cadeados - o fosso ao redor;

o retrato do viejo brujo na parede, unhas pontiagudas, dedos magros, indicador apontando a direção do inferno, olhos injetados, nariz adunco, o retrato do velho bruxo.

Acendeu a lenha para o fogão clamando labaredas, crepitar quebrando o silêncio, uns cães uivando à lua minguante de lá de fora;

o medo abafado sob o xale, a proteção da gaiola de ferro, o prisioneiro encerrado em grades, muros, os que ergueu em torno de si;

amarelas, as páginas do livro de feitiços sob a luz da lamparina.
E um lugar seguro.
Um lugar seguro.

Os olhos da salamandra, o rabo da salamandra e a noite. A noite, tão perigosa.

Além da porta, o imprevisível, oculto, desconhecido. Além da porta, um coração.

O dentro metia medo.

O calabouço.

Fora, aterradoras - mais que as ruas da cidade, a noite -, as ruas-artérias do coração.


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"Mexo e remexo e me perco e adormeço nas ruínas da cidade submersa
sonhando um mar que não conheço
como não conheço as ondas do meu coração"

(Cidade Submersa, Paulinho da Viola)

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