6.1.10

verano

Diviso as luzes do navio desde o porto. É noite. O caderno de arame não tem luzes. Nada escrito. Corro pela orla a ver se encontro a ponte. Corro até o amanhecer. Exausta, adormeço sobre um banco de areia.
Acordo em minha cama.
Vejo que sonhei.
Que um moço feiticeiro me visitou em sonho.

Ele cantou canções. Soprou-me um cisco no olho. Acariciou-me os cabelos.
Vinha de longe, de outro tempo. Falou de viagens. De gentes. De mundos. De universos. Um moço feiticeiro.
Era pintor.
Mostrou-me suas telas.
Tinha dedos longos.
Mãos bonitas.
Eu não lhe disse isso, das mãos.
Eu não lhe disse muitas coisas.
Outras, não deveria ter dito.
Ele ficou algum tempo.
Falou de amor. De dor. De rimas.
Depois partiu.
Foi bonito, o sonho.

A gente sempre acorda um dia, enquanto vida tem.
Meu despertar foi brusco.
Sinto ainda no rosto o sal.
O moço - deve ter encontrado a ponte. Ou embarcado no navio luminoso.
Meu caderno de arame ficou sobre a mesa.
Sem luzes.
Nem palavras.

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4 comentários:

Clarissa disse...

certas coisas não são possíveis de se traduzir com palavras, mas a gente consegue sentir. lindo sonho o teu. beijos, Clarissa

MgP disse...

obrigada, Clarissa.
volte sempre.
beijo,

Mme. S. disse...

Soprar cisco no olho é coisa de delicadeza. Como esse poema tá bacana, minha nossa!

um cheiro, S.

MgP disse...

Era só um devaneio. Seu olho agudo foi que viu poesia nele. ;)
bjão,