8.1.10

minotauro

A ponta do fio se me desprendeu das mãos sem que eu notasse e lá me fui, barata tonta, bêbado aos tropeços, que quanto mais avançava mais estava em lugar nenhum, menos se aproximando da chegada, da saída.
Não via nada além das paredes, esquinas, corredores, não via ninguém, não via rabiscos nos muros, grafitos, sinais, nada além de ossos humanos, de animais, em nada pensando senão sair de lá quanto antes.
Parava, deitava no chão, sujo, ofegava, encostava o dorso no cimento morto, até voltar o rugido, o zumbido, os passos, recomeçar a perseguição, a fuga.
Foi assim o tempo de uma valsa. Uma valsa de mil tempos, pés descalços e feridos demais para dançar.

Então choveu. Forte. Trovejou. Relâmpagos riscaram formas luminosas no céu pesado, a água arrancando pedras do chão, levando embora a poeira dos pesadelos, trazendo, fino, invisível, quase, o fio, a ponta, em que me agarrei, me amarrei, e fui puxando, seguindo, o fio condutor, a chave da porta de saída.

Não havia penas, não havia cera, não havia mar, não haviam asas, só o fio. E por um fio, continuei, avançando, dobrando as esquinas, perdendo corredores, os ruídos ameaçadores se afastando, se afastando, sumindo, e não mais paredes.

E vi o campo aberto e o sol e o prado e o verde e a liberdade e o cansaço tão grande tão grande e não parecia nada e a força vinda de não sei onde movendo as pernas em desabalada corrida e o fim do cárcere do cativeiro da jaula da gaiola. Do labirinto que em segundos ruiu.

E o azul do céu.
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