tag:blogger.com,1999:blog-72789810813688747732024-03-05T12:04:44.993-03:00Parece que foi assimnenhuma certeza, pouca memória, impressões sobre uma vida, de alguém, minha, de não sei quem, a partir do que me mostraram, contaram... sonhei.MgPhttp://www.blogger.com/profile/09170614821702889924noreply@blogger.comBlogger87125tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-87082766050184920432011-03-20T00:46:00.009-03:002011-03-21T16:49:43.732-03:00NostalgieE eu saio de casa e ando pela rua com medo da velocidade dos carros do trânsito da pressa do fim do mundo da radiação da solidão do passado do futuro.E eu saio de casa pensando nos sonhos que um dia larguei porque não podia porque não tinha tempo porque não tinham mais razão de ser porque eu precisava cuidar de outras pessoas com outros sonhos e outras vidas.E eu saio de casa pensando que tive Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-47998241702800637992011-02-27T04:30:00.021-03:002024-01-27T08:58:22.096-03:00sábados, versos, purpurinaTu pisavas nos astros. Sem ver teu vigia.O dia começa mais cedo, antes do sol.Lembro dos versos mais belos de duas canções e sinto saudade do manifesto comunista. Marx e Engels escreveriam hoje: "internautas de todos os países, uni-vos!"?Reli as cartas do passado para reafirmar meu alívio por fazerem parte do passado. C me pergunta: "você assim não fica trazendo o passado para o presente?" "DeixaUnknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-80042105977001915272011-02-23T09:10:00.006-03:002019-08-04T20:47:57.842-03:00busca e apreensão
Ontem foi dia de romaria. Pela cidade, procurando bandeiras. Banderas. Fui ao italiano, ao português, ao recifense. Restaurante, botequim, chopperia. Não nessa ordem. Não nessa cronologia. Fui aos possíveis lugares onde não foi possível encontrá-lo.
Ontem ele não quis tomar vinho em companhia da moça que poderia ser sua filha - mas não era. Nem cerveja sozinho. Nem chopp com amigos. Onde Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-3398137645999869822011-02-03T14:40:00.006-03:002011-02-04T18:17:01.943-03:00PurificaçãoVocê perfuma a casa com cravo, canela, essência de hibiscos, de rosas. Varre o chão. Manda embora poeiras antigas, cata o lixo, põe fora.Um copo de água e sal grosso para filtrar o ambiente. Incenso.Você promove, na casa, uma limpeza espiritual. Passa de meia-noite e o sono já vem. Você havia posto sobre o sofá vermelho empoeirado, depois de remover a poeira, uma manta colorida - quadrados Unknownnoreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-19634064596312576112010-12-25T15:41:00.005-03:002010-12-25T16:15:35.298-03:00O pau d'arco IICortei as mãos ao recolher os cacos de vidro espalhados pelo chão da cozinha. Atirei uma pedra grande de granito no ratão que tentava se esconder atrás do arbusto, e ele não morreu-reu-reu. Nem fui à polícia e saiu em disparada, capengando, como podia, até sumir de vista. Reprovaram meu ato selvagem - atentado contra a mais ínfima vida gera reclamações e pregações ali, entre eles. Não dei ouvidosUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-53666790581078404682010-11-21T21:40:00.001-03:002010-11-21T22:11:34.013-03:00O pau-d'arcoAparei com uma lata a água da chuva e despejei no saquinho de terra com a muda de pau-d'arco. Água da chuva dos cajus. O gato brigando quebrou o arco, perto da raiz. Enterrei de novo, a ver se tem jeito. É que em frente de casa vai ter uma árvore dessas. Para florir em setembro. Pau-d'arco é aqui. N'outros cantos dizem ipê. Esse é rosa. Ou foi - não descobri se ainda vive. Ontem não consegui ver Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-16295045282505030602010-11-05T08:52:00.010-03:002010-11-22T22:03:47.375-03:00Arcano XVIIIAs ruas da cidade estando perigosas à noite, fechou janelas e portas - trancas, travas, cadeados - o fosso ao redor;o retrato do viejo brujo na parede, unhas pontiagudas, dedos magros, indicador apontando a direção do inferno, olhos injetados, nariz adunco, o retrato do velho bruxo.Acendeu a lenha para o fogão clamando labaredas, crepitar quebrando o silêncio, uns cães uivando à lua minguante de Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-89822994738788031752010-10-23T20:26:00.013-03:002010-10-24T10:43:36.572-03:00SábadoEu quis compor um samba mais cedo, pra festejar o sábado, a vida, o calor. Procurei pela casa as notas, os acordes debaixo da penteadeira; do toucador, a melodia. Procurei e não achei. Não tive muito tempo, que a rua do mundo me chamou a trabalhar, então fui descendo a ladeira de terra esburacada, o sol doendo nos óculos de lentes antiUVA, pró-vinho, vendo os mascates nas bicicletas carregadas deUnknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-52998672352318259252010-09-28T09:15:00.003-03:002010-09-28T09:22:57.773-03:00Terça-feiraAmanhecer sozinho é bom. Ninguém ao lado pra resmungar. Pra atrasar o banho. Pra conversar demais. O tempo elástico para o café silencioso, os óleos e cremes, ler as cartas e os jornais e partir para a rua do mundo.Amanhecer sozinho pode ser triste. Pode ser chato. Pode ser terrível.Hoje é bom.Nuvens no céu, prenúncio de chuva no fim de setembro, temperaturas enlouquecidas, aquecimento global, Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-88388706157600326132010-08-26T02:08:00.009-03:002010-09-20T22:31:55.185-03:00SolidõesRamos, palha, gravetos, nada restou do ninho. A ave não tinha para onde voltar. Muitas não tem mais para onde voltar.Silêncio, escuro, sala, noite, solidão, e se sentia assim. Ave que quer voltar ao ninho. Mas ninho não há mais. Drumondianas - na lembrança.De repente - não muito - enjôo de samba, refeição primeira em tempos recentes.Sem querer samba e sem haver ninho, urgia acender a luz. Pra verUnknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-47511113613496007722010-08-02T00:52:00.012-03:002010-08-05T01:07:28.533-03:00Para o frioHá muito não falava em sonhos. Apenas andava. Retas. Curvas. Circulos, que voltavam ao ponto primeiro. Acabando onde começava, serpente autofágica, boca no rabo, rabo na boca. Ou anéis, como as cascavéis. Ouroboros. Sem alquimias e pedras filosofais.Dois séculos antes, o frio não lhe atingia a cintura, enredada em melenas espessas, longas, dourado-cinza, cinza incomum.Agora entrava pelos pés, Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-39148643672534645852010-05-26T21:30:00.006-03:002010-05-27T08:51:00.906-03:00Visita Não havia muito o que fazer por ela, que corria a casa enlouquecida, cavando prateleiras, invadindo armários, puxando portas.Tinha fome, todas as fomes, de líquido, de sólidos, de fluidos. Fome no estômago, fome no sexo.Subia pelas paredes, literalmente, colando no vidro da janela o focinho. E ninguém, fora a senhora compadecida, reparava na aflição em seus grandes olhos de folha de grama.Por Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-46825320189357500722010-04-24T13:45:00.012-03:002010-05-03T10:40:33.622-03:00A folha do livroBonança chegada, céu de abril azulou.Nuvens e pesares passados, perdi os óculos, de mais graus que o necessário, sem lamentar. Ajustadas as lentes dos novos, aquilo que eu olhava retomou sua real dimensão.E a resposta? Ah, a resposta... Primordial era a pergunta, não a resposta. A dama das letras aconselhava, sempre: - faça a pergunta certa! Pois foram tantos anos fazendo a pergunta errada que a Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-34336786894131110992010-04-12T07:21:00.032-03:002010-04-15T22:41:35.836-03:00Homo infimusMadrugadinha, cheiro de café, portas e janelas abertas, pintas vermelhas pelos dedos das mãos, aceno em adeus às muriçocas saciadas.Penso em passar primeiramente na botica, última tentativa antes de proclamar indeléveis as manchas na planta dos pés, que nenhum esfregão detergente sabão saponáceo alvejante conseguiu remover - conseqüências das menos nefastas da peregrinação, longa, no pântano. (Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-45307113198856462812010-04-04T12:57:00.015-03:002010-04-04T19:34:04.089-03:00AlimentoTrês degraus acima, na prateleira da cozinha, o caldeirão de cobre, teias e poeira chega ao alcance da mão. Para o cozido, não pedaços dos filhos, Medéia contemporânea. Não o convite para a ceia. Não o preparo amoroso do alimento, mãos à obra, mão na massa, mãos limpas, mão que afaga. Para o cozido, água. E pedras. A sopa do monge. Alimento e partilha. Um caldeirão de afetos. Souvenirs. Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-67799312407988434142010-02-12T00:43:00.004-03:002010-04-04T19:13:37.760-03:00Navegar. Viver.Ontem trouxe o barco para casa. O leme quebrado tinha conserto, o mastro horizontal, não. Ainda assim, o vento enfunou as velas e partimos, em pensamento, risco grande de soçobrar.Havia um rato morto no tanque, já duro, sobre o saco de estopa que um dia guardou livros. Pus ambos no lixo e se foram.Sonhei a vida inteira com o barco. Ele chegou, enfim. Quebrado. Ainda assim, bonito de ver. Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-65352094957795552752010-01-18T23:59:00.001-03:002013-03-31T23:22:37.237-03:00Um dia comum
Quando terminei de ensaiar o samba-enredo, a escola já tinha passado. Isso porque chovia a cântaros - somente porque quis usar a expressão e falar em cântaros, como falar em píncaros, por nada além da sedução dos fonemas, das proparoxítonas - estando trincados os cântaros e a água escorrendo pelas frestas que a super bonder do desejo não conseguiria jamais colar.
Soltei a voz, não na avenidaUnknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-68994879550746644352010-01-08T10:40:00.004-03:002010-02-28T16:57:21.909-03:00minotauroA ponta do fio se me desprendeu das mãos sem que eu notasse e lá me fui, barata tonta, bêbado aos tropeços, que quanto mais avançava mais estava em lugar nenhum, menos se aproximando da chegada, da saída. Não via nada além das paredes, esquinas, corredores, não via ninguém, não via rabiscos nos muros, grafitos, sinais, nada além de ossos humanos, de animais, em nada pensando senão sair de lá Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-51394663140245717892010-01-06T07:05:00.002-03:002010-01-06T07:09:24.411-03:00veranoDiviso as luzes do navio desde o porto. É noite. O caderno de arame não tem luzes. Nada escrito. Corro pela orla a ver se encontro a ponte. Corro até o amanhecer. Exausta, adormeço sobre um banco de areia. Acordo em minha cama.Vejo que sonhei.Que um moço feiticeiro me visitou em sonho.Ele cantou canções. Soprou-me um cisco no olho. Acariciou-me os cabelos. Vinha de longe, de outro tempo. Falou deUnknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-86419510519472355612009-12-23T10:44:00.006-03:002009-12-23T23:56:13.398-03:00A estradaEra essa a estrada, era sim. Passei por ela há anos, bem me lembro. Mas havia um ingazeiro de galhos debruçados sobre o rio.O rio, era esse, sim. Mas havia água em seu leito.Eram essas as pedras, não se moveram, até onde a vista e a memória ainda podem afirmar. Mais claras? Mais escuras?Eu passava por aqui, e descansava à sombra da tarde vermelha. E sonhava nuvens e contava pássaros, e catava Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-75761998249852039152009-11-21T13:35:00.004-03:002009-11-21T14:02:43.989-03:00PassageirosEm seus olhos sorridentes, miúdos, meninos, a clara manhã.A cachoeira cristalizada, queda d’água adiada a jamais.Chão retirado de sob os pés, fardos de sobre os ombros jogados à terra. Quase levitar, nenhuma dor, notas no piano.O encontro e a pele encrespada, pelos eriçados, arrepios. Voz suave, ciciar de lençóis em dedos entrelaçados. Desejo e o corpo ardendo, o estreitamento, um em uma, um a Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-81760433892313764462009-11-17T13:02:00.007-03:002009-11-17T13:45:48.039-03:00FériasNão era mais noite e o despertador não tocou e a manhã já tinha se esvaído em sono em nada em vão quando o cancão chamou de cima das ramadas altas e nunca antes na história desse lugar tinha vindo um cancão em visita, presságio, passagem, chafurdando a placidez do tempo, anunciando avalanches. Aí acendi a luz e limpei a pia e fiz o café e morri de preguiça e de sono e de tédio das noites bourbon Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-59172749393708699262009-11-02T13:19:00.006-03:002010-05-27T07:49:48.222-03:00Depois do banhoA última tentativa depois do banho de imersão. No barril de madeira, loção e óleos. Sal grosso e aromático. Contra olho gordo, magro, em forma.Dali ao mar, uns passos. E a nuvem passando sem querer virar água. Sem lava-pés, lava-jato, lava alma.Um barco partindo. Um barco chegando. Ondas indo, vindo, o ensinamento de Netuno. De Iemanjá. Ondas e silêncios.Depois do banho de imersão, não mais Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-50827255240928318422009-10-30T20:49:00.006-03:002009-10-30T22:30:52.283-03:00Enquanto a noite caiEnquanto a noite cai me sinto ausente. Não estou onde estou, estou além. Longe do mar, longe do lugar onde nasci. Tem alguém em casa, além de mim. Mas não estou em casa, nem ele também. Meu corpo físico, apenas, estirado no sofá vermelho. Sua presença na sala. Seu corpo longe. Próximos. Distantes. Eu, que estou aqui, mas não estou. Ele, que não está aqui, mas está. Penso nos seus olhos negros, noUnknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7278981081368874773.post-64127558843587807492009-10-21T18:35:00.009-03:002009-10-29T08:28:04.422-03:00as tripas e o coraçãoVoltei para casa porque precisava dizer, que há muito estava muda. Sofri uma intervenção cirúrgica. Um belo dia amanheceu, bocejei, e quando dei por mim, me havia entrado na boca um alicate, que de um sopapo me extraiu as tripas pela mesma boca - a de onde sai o mal. Ardia-me a garganta, um pouco, e só. O fato é que por dentro, abaixo do estômago, estava vazia. Nada mais podia digerir dali por Unknownnoreply@blogger.com6